terça-feira, 22 de dezembro de 2009

EU SOU UM BOBO!!!

Essa semana por algum motivo, por três vezes em situações diferentes fui chamado de bobo. Sim, bobo! Por que eu era bobo, por acreditar nisso ou naquilo, por pensar assim e assado!? Enfim, quase fui excluído. Eu, bobo! Aí, comecei a refletir, a pensar demasiadamente na questão, até me deparar com a definição de bobo que a maginífica Clarice (Lispector) tinha a respeito. Eis:

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde:
- Estou fazendo, estou pensando!
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão... Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona... Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase:
- Até tu, Brutus?
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem. Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo.

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